Construção e perpetuação da memória de carnavalescos (cantores e compositores) em cemitérios cariocas (1936-1983).


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O cemitério é um espaço privilegiado para o uso da História, pois se trata de um local de guarda de uma memória claramen­te definida em monumentos repletos de signos. O objetivo destetrabalho é relacionar o uso deste espaço urbano específico à constru­ção da memória de personalidades ligadas à música e ao carnavalcarioca. No caso em questão, os mortos são pessoas conhecidas ereconhecidas por seu trabalho artístico. Duas vias são estabelecidas: composição das sepulturas com seus símbolos, significados e men­sagens; recepção, (re)construção e perpetuação da memória pelosvisitantes destas sepulturas. Epitáfios, signos, fotografias e outrasmarcas que estão presentes nas sepulturas muito nos ajudam acompor o tipo de memória que se procurou perpetuar e qual relaçãose pretendeu estabelecer entre o vivo (fã) e o morto (artista). Para aelaboração deste trabalho foram escolhidas consagradas personalida­des carnavalescas. Assim, as sepulturas de Noel Rosa, Ary Barroso,Carmem Miranda e Clara Nunes foram as selecionadas. Localiza­das no mesmo cemitério, próximas ou distantes, ou em cemitériosdiferentes, trazem informações pessoais e representações de épocaspróximas e distantes. Espera-se contribuir para a compreensão deum tipo específico de fonte para a história do Carnaval carioca.

Palavras-chave: Carnaval, personalidades carnavalescas, cemitério, sepulturas, símbolos.

Introdução

Busca-se neste texto fazer uma análise sobre os componentes dos túmu­los selecionados de consagradas personalidades carnavalescas. Estes túmulos estão localizados nos cemitérios cariocas de São João Batista e São Francisco Xavier. Para a elaboração deste trabalho foram escolhidas as sepulturas de Noel Rosa, Car­mem Miranda, Ary Barroso e Clara Nunes. Procurou-se traçar aspectos comuns, identificação de signos do mundo sagrado e profano (música/carnaval)que comporiam os túmulos/mausoléus pesquisados. Este texto está dividido em duas partes. A primeira discuteo conceito de intermediação e apresenta o cemitério como lo­cal de memória e a composição dos túmulos, com sua esta­tuária e epitáfios. A segunda parte trata dos signos existentes nos túmulos selecionados.

Alguns pressupostos

Considerando que se está trabalhando com compositorese/ou cantores, em sua maio­ria, deduz-se que a famíliado(a) falecido(a) possui recur­sos financeiros para execução de sepulturas em mármore e com a presença de ornamen­tos também em mármore ou bronze, estatuária compondo-se de meio busto do retratado ou a presença de placas, defotografia em medalhões demármore/esmalte/ferro, datado natalício ou da morte, etc.

A representação do mundosocial e, no caso, do mundo do carnaval da relação sagrado/profano é determinado pelo conjunto de seus componentesem busca de uma identida­de. Como o espaço cemiterialé eminentemente religioso, há a soma destes mundos, com suas respectivas repre­sentações e simbologias.

Neste trabalho, parte-se daperspectiva da existência de es­paços diversos, construídos paraserem vivenciados e, também, comportar experiências, valores eideias. Há o espaço geográfico docemitério na cidade; há o espaçoda sepultura/mausoléu dentrodo cemitério; há espaços nomausoléu/sepultura que compor­tam, conjunta ou isoladamente,epitáfios, fotografias, ornamen­tações várias, estatuária, placas,bustos, símbolos, história da família (cronologias com da­tas e nomes), etc. As vivênciase experiências, as emoções esensações variam conforme o uso destes espaços, separadamenteou em conjunto. Não se podeesquecer que a própria fotografia(e demais ornamentos) possuiseus espaços internos e externosno momento de sua construção.

Portanto, utiliza-se o con­ceito de intermediação, não só da fotografia, mas de todos oscomponentes que integram omausoléu/sepultura. Este(a),com ajuda das ornamentações,atua na construção de uma memória individual e, em espe­cial, coletiva. Esta se refere ao cotidiano de milhões de pes­soas que repartiam seu tempocom as atividades culturais e com o artista/carnavalesco.

Mas para compreender a me­diação é necessário entender a composição do objeto, localizá-lohistórica e socialmente, conhe­cer sua(s) particularidade(s).Neste sentido, as ornamentações são carregadas de sentidos. Aconstrução das tipologias nas se­pulturas/mausoléus pesquisadosajudará a verificar estes pontos.

Um importante componente cemiterial é o epitáfio. Como escrito antes, faz parte da construção de uma memória, em especial, do falecido, mas dentro dos padrões morais e sociais vigentes[1].

Deve-se entender o epitáfio como uma maneira de valorizar o morto e realçar seus valores e ideais, reafirmar valores fami­liares e manter estes laços. Mais que um aspecto individual, re­força o caráter coletivo, familiar. Os epitáfios nos dão, ao longodo tempo, informações culturaise religiosas importantes frente ao conceito de morte e de sua superação, formas de expressare vivenciar sentimentos. O mes­mo se pode dizer da estatuária.

O familiar do morto desejaprestar uma homenagem, mas ao mesmo tempo tecer umamemória dos laços que cons­truiu. Esta é um fato social, temporal e espacial. Na maioriadas vezes há liberdade de esco­lha das narrativas, dos signos edas imagens, que podem trazerimpressões sobre o morto, suasrelações sociais, profissionais efamiliares. Da mesma forma a impressão destes sobre o fato damorte demonstra sentimentos e aspirações terrenas e celestiais.Tais aspirações e sentimentossão coletivos, são construções imaginárias repletas de signosrelativos ao poder, etnia, mo­ral, ética, religião. Assim, atéque ponto é possível pensar assepulturas de personalidadeseminentemente ligadas a umafesta da “carne” com elementos sagrados? Ou, até que ponto épossível pensar em elementos sa­grados ligados as personalidadesvinculadas a uma festa profana?É isto que veremos a seguir.

Uma proposta deanálise cemiterial

Nesta parte do texto serãoexaminadas as sepulturas daspersonalidades escolhidas. A proposta é apresentar cada umadelas separadamente, descreveros elementos de sua composiçãoe analisar aspectos ligados aomundo carnavalesco e religioso.

Comecemos com o compo­sitor e cantor Noel de Medeiros Rosa. Nascido em 1910, na cida­de do Rio de Janeiro, de família de classe média, estudou em um dos melhores colégios dacidade e ingressou na faculdadede medicina. Mas desde cedo abraçou a música e a boemia, não concluindo o seu curso. Morador do bairro operário deVila Isabel, ficou conhecido como o “Poeta da Vila”. Morreu com apenas 26 anos de idade, deproblemas pulmonares agrava­dos pela sua vida boêmia. Nãose pode pensar a música popu­lar brasileira sem a figura deNoel Rosa. Suas criações foram gravadas pelos mais importan­tes cantores do Brasil, sendo até hoje lembradas no carnaval.

Noel Rosa foi enterrado no cemitério de São Francisco Xavier. Sua sepultura, cuja datade construção não foi dada a conhecer, não possui nenhumainformação. É composta poruma placa onde se vê o bus­to em relevo, outra placa comdedicatória, uma palma e umviolão. Além, é claro das datas de natalício e morte do composi­tor. Sua imagem retrata o perfildo compositor, vestindo a roupa de sua época, terno e gravata. Aplaca abaixo do busto possui osseguintes dizeres: “A Noel Rosa,poeta da Vila, homenagem dopovo carioca. Iniciativa da Asso­ciação Atlética de Vila Isabel.” Datada de 11-12-1960. Portanto, quando completaria 50 anosde idade. Por fim, abaixo, dois símbolos que unem o sagrado e o profano: a palma e o violão. Apalma é universalmente consi­derada como símbolo de vitória, de ascensão, de regenerescênciae de imortalidade (Chevalier& Gheerbrant. 2009: p. 680).

noel

Portanto, Noel Rosa não mor­reu, pois sua alma ascendeu aoscéus. Ao lado da palma há o con­torno de um violão. Instrumento símbolo da produção artísticado compositor, foi subtraídopor algum desonesto. O violão,instrumento musical popularaté os anos trinta, não gozavade boa acolhida nos meios mais elitizados econômica e cultural­mente, assim como o samba. Andar com violão às mãos po­deria acarretar passar a noite naprisão. Mas era a marca de NoelRosa, seu meio criador. Mas, tal qual a Palma, o violão tambémadquire o caráter de eternidade,de imortalidade ao compositor/cantor. Suas músicas, entretan­to, nada tinham de sagrado,pois cantavam os amores, asmágoas, as alegrias, a boemia,os cabarés, a vida e a morte.

Na sepultura de Noel Rosa,enfim, é possível identificar suafigura ao carnaval, à música po­pular brasileira, lá está o violão.Vê-se a imagem do “poeta daVila”, com o epitáfio devidamen­te fundamentado, localizado espacialmente e assinado. Nãoera da família, que não está pre­sente no túmulo. Há a imagemexplícita do sagrado (Palma).

Outro importante compo­sitor brasileiro que será anali­sado é Ary Barroso (1903-1964).Nascido fora da cidade do Rio de Janeiro (Ubá, estado de Minas Gerais) em 1903, vem para estacidade fazer o curso de Direito. Entre os estudos e a boemia, conclui o curso que nunca apli­cou. Tornou-se um dos maiores compositores da música popularbrasileira, incluindo uma com­posição referência, “Aquarela doBrasil”, utilizada na produçãode Walt Disney, “Alô amigos(1942)”. Além de compositor,Ary barroso foi cantor, narradoresportivo, radialista e político.

Pela imagem abaixo, ob­serva-se os elementos quecompõem a sepultura do com­positor e se pode verificar váriosaspectos. O meio busto presen­te está no elemento mais alto da sepultura, portanto, comdestaque. Apresenta-se vestindoum terno e uma gravata, olharao longe, e não esboça sorriso.Uma imagem respeitosa que,isolada, poderia representarum cidadão reconhecido, agra­ciado com o busto por alunosou colegas de trabalho, etc.Qualquer pessoa sem nenhumvínculo com o carnaval, ou mesmo, que odiasse o carna­val. Poderia ser um político (naverdade, foi), um empresário,um embaixador, entre outros.

No plano mais abaixo vemosuma figura feminina, próximaa ela havia um pandeiro (talqual Noel Rosa, teve seu orna­mento subtraído). Em muitassepulturas, em especial de pessoas abastadas, do sécu­lo XIX e início do século XX, encontramos muitas figurasfemininas, com destaque paraa pranteadora, ou seja, umafigura com a cabeça voltadapara o chão, com as mãos se­gurando a cabeça, chorando.

aryA figura feminina é repre­sentada por uma mulher/jovem vestindo uma roupa respeitosa, embora com os braços à mostra. Sem ornamentos e descalça, aproxima-se da pureza, emboranão represente uma figura ange­lical. Ela está próxima da ima­gem da desoladora, geralmenteassociada à figura femininaalada. Está cabisbaixa, seu olhar se dirige para baixo, não para o pandeiro. Uma face triste,reflexiva. Ou, quem sabe, estácansada de dançar, daí a perdado calçado e cabisbaixa. O ins­trumento musical, o pandeiro, está em silêncio. Um instru­mento rítmico, ligado a umtipo de musica carioca (emborapresente no resto do Brasil emoutras festividades), o samba.Próximo a este, um instrumento do ofício de narrador esportivode rádio, outra profissão de AryBarroso, seu famoso apito.

Próximo aos pés da figurafeminina havia folhas soltas (partituras musicais), igual­mente subtraídas. Esta dava ao morto mais uma relação com a música, como também a harpa,na parte frontal inferior. Nooposto a esta, vê-se a figura que representa o teatro, no caso acomédia (quem sabe o teatro derevista, um teatro musicado).

A sepultura foi construí-da em mármore vermelho e estatuária dourada, portan­to nada discreta e destoando das demais. Portanto, suas cores e seus ornamentos cha­mam a atenção do visitante ao túmulo ou ao cemitério.

carmem

Não está presente nenhu­ma figura sagrada. Nenhu­ma cruz, imagem de Cristo,nada. Se a relação com a mú­sica está evidente, o sagradoestá totalmente ausente.

Não há presença de epitá­fios. As mensagens devem serlidas nos ornamentos. Não há datas, nenhuma referência além do nome do falecido.

Outra sepultura a ser anali­sada é a da cantora e atriz Car­mem Miranda (1909-1955), umadas mais visitadas do cemitério São João Batista no dia de fina­dos (dois de novembro). Con­temporânea de Ary Barroso, com ele cantou, assim como muitas de suas composições. CarmemMiranda foi a mais importantecantora brasileira nos anos 30, desembarcando nos EUA parauma carreira promissora nocinema de Hollywood nos anos 40. Sua imagem, com frutas nacabeça, até hoje pode ser encon­trada em desenhos animados americanos. Tom e Jerry, LucilleBall, Woody Allen, entre outros,usaram e citaram a performancede Carmem em seus produtos.

Ao visualizar a sepultura,chama a atenção o fato de queuma figura tão conhecida, cujaimagem esteve presente noslares brasileiros e americanos portantos anos, não possua foto­grafia. Uma imensa assinatura, com traços firmes, foi colocada no centro da sepultura, nãodeixando dúvidas sobre quemali está sepultada. Uma estátuareligiosa está presente: SantoAntônio. Uma imagem comum,inconfundível. O uso da ima­gem sacra, do santo de devoçãoé muito comum em cemitérios brasileiros, sendo Santo Antônio um dos mais populares. A ima­gem sacra é dotada de atributosque reforçam e identificam ofalecido(a) com a representaçãoreligiosa. Portanto, sua existên­cia leva o passante a ver ali umadevota, uma pessoa religiosa.Abaixo da imagem, em relevo,pode-se ver um mapa das Améri­cas, dando a entender a relação da cantora/atriz com o Brasil e o exterior, no caso os Estados Unidos. Ao lado do mapa, masem outra superfície, encontra-seuma placa com escrito do mari­do da falecida: “Em memória de minha querida esposa CarmemMiranda Sebastian, Seu devotado marido. Datada de 5 de agos­to de 1955.” No outro extremo, outro mapa, agora englobandoa África e a Europa, em umareferência ao país de origemda cantora/atriz, Portugal. Aolado, outra placa com os dizeres:“Saudades de sua mãe Maria Emilia Miranda da Cunha”.

Percebe-se que se não fosse adata colocada na placa do mari­do de Carmem, o passante não saberia da data de sua morte. A idade com que faleceu não édada a conhecer, já que a datado natalício não está presente.

Nenhuma referência ao carnaval ou ao cinema é en­contrada. Por que a família deCarmem Miranda se absteve de ligar sua memória ao carna­val? A música? A atriz? Talvez não houvesse necessidade diante de sua enorme fama?

Não há propriamente umepitáfio tradicional. Há duasreferências (do esposo e damãe) visto à falecida. A soma­tória das imagens possíveis ounão, conforme o conhecimen­to do passante, é que dará asinformações sobre a falecida, conforme foi apresentado.

Por fim, outra personagemda música popular brasileira edo carnaval a ter sua sepulturaanalisada é Clara Nunes. Mais contemporânea, morreu jovem,no auge da carreira, com 40anos. Clara teve uma carreira meteórica, sendo a primeiracantora brasileira a vender mais de 100 mil cópias de um LP(Long Play). Sempre cantando debranco e muitas músicas ligadasao Candomblé e a Umbanda, religiões afro-brasileiras, Claranão escondia seu espiritismo, asua escolha religiosa. Sua sepul­tura é muito simples, cobertapor mármore branco e possuium caramanchão de alumínio.

Há uma cruz, deixando claro ao passante que se trata de umapessoa cristã. A fotografia mos­tra uma jovem, de batom forte,com seus cabelos cacheados e es­pessos. Veste uma blusa branca.Abaixo da fotografia, um epi­táfio: “… ela se foi pra cantarpara além do luar onde moramas estrelas… Adeus meu sabiá. Até um dia”. Trata-se de um dois trechos da letra da música “Ser de Luz”, de autoria de Paulo Cesar Pinheiro (marido da can­tora e importante compositor damúsica popular brasileira), Mau­ro Duarte (compositor reconhe­cido) e João Nogueira (sambista,importante cantor da músicapopular brasileira). Esta música foi feita dias após da morte de Clara Nunes, para ser um samba definitivo em sua homenagem, nas palavras de João Nogueira. Tornou-se um sucesso popular[2].

Trata-se, portanto, de umepitáfio diferente. Muitosepitáfios apresentam poemas,depoimentos e letras de músi­cas. O de Clara Nunes se re­mete a falecida, mas é trecho de uma música feita em sua homenagem. Pode-se enten­der que ela não morreu, ape­nas foi cantar no céu, além do luar. Seu canto (aqui na terra)era como de um sabiá. So­bre a tampa, o nome de ClaraNunes e as datas do natalício (1942) e do falecimento (1983). Seu túmulo é um dos mais visitados no dia de finados.

Uma leva de fãs lá comparecepara cantar e levar flores. Umdiferencial em relação às demais personalidades aqui pesquisa­das foi sua constante declaração de fé. Uma das placas chamaa atenção para esta questão: acantora se tornou intercesso­ra. A placa, em mármore diz:“Agradeço pelas graças alcança­das. Clara Nunes, 29/12/2007.”

A figura da intercessoraou do intercessor é comum em quase todos os cemité­rios brasileiros. São crianças, jovens mortas com violência,pessoas famosas em seu tempo(escravas, benzedeiras, políti­cos, artistas, etc.). É claro que

o principal intercessor que seencontra nos cemitérios são as imagens sagras, ou seja,os santos de devoção atuam junto ao Senhor para que o(a)falecido(a) alcance o Paraíso omais rápido possível. No casovivo, o intercessor atua como intermediador entre o pedin­te e o concessor da graça, nocaso, o Senhor. Clara Nunes, portanto, foi considerada pelopedinte como uma importanteagente intercessora. No caso,a intercessão deu resultado, pois a graça foi atendida.

Considerações finais

As sepulturas analisadascomportam a proposta de ver oespaço cemiterial como local dememória individual e coletiva, de defensor e propagador deideias e valores religiosos, so­ciais e culturais da sociedade. Para tal se faz uso do epitá­fio, da estatuária, da imagem(fotografia, busto, etc.) e dasdatas, natalícias e de morte. O que se percebeu foi a formadiferenciada da construção desta memória e sua relação com o mundo artístico, carna­valesco, profano e sagrado.

Se, de um lado, pôde-seencontrar imagens e símbolosreligiosos (Santo Antônio, Cris­to, palma e cruz), relações com

o sagrado popular (intercessão),de outro lado há uma ausên­cia completa deste mundo.

Verificou-se a declaração po­pular (via Associação Atlética) deadoração terrena pelo composi­tor ou cantor(a), mas também aausência completa da relação doartista com seu mundo profano.

Percebeu-se a existência de um mundo musical (par­tituras, pandeiro e violão),mas a ausência de relações com o mundo sagrado.

Enfim, ao morto artista/carnavalesco ou pessoa ligadaao carnaval é dada a família ou ao povo a opção que de melhormaneira representa individualou coletivamente (família oufãs) do ponto de vista da cons­trução da memória, o estabele­cimento da relação vivo/morto.

Clara Nunes e Carmem Miranda ainda promovem idasao cemitério no dia de finados.

Suas memórias estão no cemité­rio, mas as relações não apenasaí se estabelecem, pois há umamemória visual e sonora ainda presente nos lares, passando depai para filho, de amigo paraamigo. Novos fãs são forma­dos com o decorrer do tempo.

Ary Barroso e Noel Rosa, senão tem uma visitação seme­lhante aos artistas supracita­dos, são sempre lembrados porsuas composições, obrigatóriasem todos os carnavais

 

Referencias bibliográficas

Chevalier & Gheerbrant. (2009).Dicionário de símbolos, Rio de Janei­ro: José Olímpio, 24ª. Ed. Gawryszewski, Alberto. (2011). Cemitério São Pedro: espaço devida, espaço de memória. In: Gawryszewski, Alberto (org.). Patrimô­nio Histórico e Cultural: cidade de Londrina. Londrina: LEDI/UEL.

La fotografía y los epitafios en cementerios brasileños comofuentes históricas (siglos XIX, XX y XXI). (2011).Domínios da Imagem, Ano V, n.09, pp. 7-21.

Silva, Armando. (2008). Álbum de Família (a imagem de nós mesmos). São Paulo: SESC.

 * As fotografias neste texto foram realizadas pelo autor in loco. Pesquisa financiada pelo CNPq/CAPES (Chamada CNPq/CAPES No. 07/2011).


[1]Ver Cemitério São Pedro: espaço de vida, espaço de memória. In: Gawryszewski, Alberto (org.). Patrimônio Histórico e Cultural: cidade de Londrina. Londrina: LEDI/UEL, 2011. P. 62.

[2]Depoimento de João Nogueira pra o programa Ensaio, da TV Cultura de São Paulo, no ano de 1992.

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